A Pesca

Eu tinha onze anos quando meu pai me levou para pescar pela última vez antes de viajar e ficar fora do país por décadas.

Como sempre fui morador urbano, qualquer passeio em áreas naturais me enchem os olhos e, no caminho, mesmo com muito sono por estarmos de madrugada na estrada, apreciei tudo o máximo que pude. Árvores grandes das quais não sei o nome passavam rapidamente escondendo parcialmente um céu escuro. Com o tempo, ele foi ficando avermelhado enquanto um sol igualmente vermelho se mostrava. Era uma alvorada geladinha e repleta de paz.

Quando chegamos, aquela paisagem de um lago gigante envolto por morros e uma névoa hipnotizante me fez calar. Eu já não era um criança falante, mas aquela sensação de harmonia e felicidade me deixaram ainda mais pensativo. Posso dizer que, para um pescador, ser alguém quieto é uma qualidade indispensável – pelo menos isso eu tinha para oferecer.

Até hoje, se eu fechar os olhos, consigo ver a imagem do lugar: grama baixa com um pouco de terra beirando o lago, banquinhos de madeira móveis, coolers com lanches e bebidas, uma caixa com um preparo para atrair os peixes e minhocas de isca. Boias coloridas para os anzóis e varas de pesca não profissionais, mas de qualidade. O cheiro do mato e da água e o som dos lances dos outros pescadores. Tudo muito agradável e inexplicavelmente bom. Consigo sentir também minha curiosidade e o medo de decepcionar meu pai enquanto ele me ensinava o que e como fazer em uma pescaria.

E eu não lembro o quanto tempo ficamos por lá e quantos peixes pegamos. Não recordo sequer se eu realmente consegui pescar alguma coisa. O momento em si ficou gravado, pois uma voz dentro de mim me dizia para aproveitar ao máximo aquela comunhão, aquele momento eterno.

Uma vez uma amiga de trabalho chorou na minha frente enquanto contava como o pai do filho dela era ausente e irresponsável. Fiquei triste por eles, mas isso me fez dar mais importância a tudo isso. Ainda hoje meu pai está longe, mas, se eu fechar os olhos, estamos lá pescando e estaremos para sempre.

Escrito por Konno


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