Amor de Carnaval

Ele entrou na festa e a primeira coisa que notou foi a música alta. Sentia-se impaciente e com os olhos pesados, se obrigara a ir para prestigiar a cunhada pelo seu aniversário. Era Carnaval e seu grupo de amigos e familiares aproveitara para juntar as duas datas e comemorar com muitas máscaras, confetes, carne, samba e bolo: uma mistura estranha. Respirou fundo para ver se seu ânimo acordava, mas nada. Um semi-sorriso brotou em seu rosto quando viu que Gustavo distribuía alguns drinks, e, pela cor, parecia uísque. Foi até lá, serviu-se (era uísque mesmo) e cumprimentou todos que conhecia, afastando-se na primeira oportunidade. Não estava de mal humor e nem chateado, era apenas o cansaço de um dia de trabalho – acabou tendo que ir do escritório direto para a festa.

Distraído com alguma brincadeira que provocava risos altos ele a viu. Seu coração bateu mais forte e agora um sorriso completo invadiu seu rosto sem permissão, esqueceu-se completamente da fadiga. Os pelos da nuca se eriçaram e ele sentiu aquele famoso frio na barriga. Como aquela mulher era linda, a mais linda de todas! Seus cabelos tingidos de vermelho e seus olhos castanhos eram tão perfeitos que lhe doíam no peito; seu rosto angelical e seu corpo atiçavam-no como se ele ainda fosse um adolescente. Um magnetismo – uma eletricidade, parecia conectar os dois de uma forma nunca experimentada por ele. A mulher conversava com outras três mulheres que ele não conhecia. Não importava. Caminhou até lá, cumprimentou-as e a roubou para si sem rodeios, abraçando-a pela cintura. Ainda sentiu o nervoso e o suor dos jovens apaixonados quando se aproximou dela, quando a tocou.

– Nossa, você demorou – ela reclamou.

A voz suave entrou em seus ouvidos e o fez relaxar ainda mais. E era assim todos os dias, desde que se conheceram no Carnaval de 1977 e se casaram trinta e seis anos atrás. Na época, todo mundo dizia que aquilo que sentia por ela acabaria num piscar olhos. Amor de Carnaval, debochavam. Depois, todos tinham certeza que as brigas e o cotidiano matariam aquele amor, como em qualquer casamento. Outros afirmavam que os filhos terminariam de vez com qualquer romance. Bom, para sua sorte, estavam todos errados e o que sentia ao encontrá-la ali, no seu aniversário de encontro, era sua quadragésima prova.

– Dia cheio hoje? – ela perguntou ao decifrar seus olhos. Alguém estourou mais confetes e eles caíram coloridos sobre os dois.

– Sim, amor, mas está tudo bem… – ele respondeu beijando-a.

O idoso casal dançou devagar enquanto a brincadeira dos jovens ainda era a atração principal no canto do salão. Indiferente à alguns olhares curiosos que os tomavam por exemplo de amor, ele queria apenas que aquele momento fosse eterno com ela, assim como tantos e tantos outros…

Escrito por Konno


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