A finitude dos sentimentos

São doze horas agora. Mas não há sol em um dia que só faz chover, há apenas um vento frio que me empurra para dentro daquela sala. Entro e vejo algo dentro de mim morrer – não vejo, sinto, o que talvez seja pior.

Uma vez tentei explicitar em palavras como é a morte de um sentimento, mas falhei tão miseravelmente que jurei não tentar uma segunda vez. Cá estou eu tentando.

Conforme dava passos lentos naquela sala e procurava a cadeira onde devia me sentar, sentia pulsões de ar indo e voltando, do ambiente amadeirado de onde estava, aos pulmões que agora estavam duros, congelados por um frio que não vinha mais de fora. Sentei. Meus olhos ardiam, quase clamando por uma lágrima para limpá-los. Eu tinha medo de que depois de uma, viriam tantas outras que eu não saberia parar. Sorri para o rosto que me encarava.

Parece que minha criatividade sumiu quando sentei aqui pra te contar. Eu te falo muito de minha vida, talvez você pudesse me falar da sua…
Não, preciso de foco.

As palavras saíam de minha boca como se pertencessem a estranhos. Eu ainda sorria, mas nada daquilo era verdadeiro, nada era eu. Conversamos por um bom tempo e eu soube que seria a última vez. O que eu estava fazendo ali? Era o que me perguntava a cada instante. A nossa intuição é sempre forte, ela sabia o que eu já queria, mas o coração evitava encará-la.

Finalmente parei de sorrir, deixei que apenas uma lágrima se formasse no olho esquerdo para lubrificá-lo.

Preciso te falar uma coisa…

Os sentimentos não são infinitos. Talvez alguém já tenha te dito que são; talvez até mesmo eu tenha dito. Pois não são. O coração humano não aguentaria se assim fosse. Amar, por exemplo, é maior que nós – não suportamos por tanto tempo. Os sentimentos vão se transformando, depois retornam e… às vezes morrem.

Neste dia um deles se foi, partiu do meu peito para uma imensidão além de mim. Não dói falar disso, mas às vezes sinto saudade daquilo que sentia. Depois que disse o que precisava dizer, não sorri, apenas encontrei os olhos dele e senti a absoluta vastidão do nada.

Escrito por Sofia


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