De onde vem a angústia (parte 02)
Tenho estado melhor, tenho me controlado e me feito livre. Acho que aprendi muito desde a última vez em que nos falamos, mas até aí, estou sempre aprendendo. A minha grande questão era entender o que me angustiava; entender o que havia em mim que tanto desorganizava a minha mente e inquietava minha alma.
Pois cheguei a alguma conclusão.
Da angústia que bebo todos os dias, provo que posso me encontrar. É como um sintoma que surge e me aponta um caminho, nele há uma tortuosa selva. De cada uma das árvores ali postas, analiso os troncos suavemente com as mãos. Sinto a terra úmida nos pés e o cheiro do orvalho nas folhas que ainda resistem. Meu corpo se inclina e toco a raiz. Sinto ali a dor.
Na raiz está a minha angústia, minha ferida a ser curada. Orvalho agora é lágrima e eu respiro fundo. Há uma escolha; sempre há. Eu posso correr, tentar fugir, me perder na escuridão. Eu também posso continuar aqui, presa à dor. Será que há outro caminho
Uma vez um amigo me disse que as dores que sentimos são raízes de árvores milenares, que as carregamos para lembrarmos de aprendizados anteriores, para que possamos enxergar a luz.
Em meio à selva escuro, escolho me sentar ao lado da árvore e olhá-la de perto. Peço perdão a ela e a mim, à minha impotência, à minha dor. Eu te perdoo, repito. Eu me perdoo, digo. Pego no sono enquanto a madrugada se aprofunda. Somos eu e ela, a árvore, a angústia.
O dia chega, a luz mostra o caminho. Meu peito não dói. Entre eu e a árvore há o perdão.
Cada vez mais acredito no que disse meu amigo. A angústia vem de aprendizados anteriores, vem de dores passadas e escuridões presentes. Precisamos aprender a perdoarmos uns aos outros, perdoarmos quem somos e quem fomos. A tranquilidade da madrugada chegará então para que o novo dia nasça.
Eu te perdoo também.
Escrito por Sofia